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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Entrevista com Cássio Matos, portador da Síndrome de Asperger.

Quero agradecer mais uma vez ao Cássio por ter cedido gentilmente essa entrevista.
A intenção é mostrar como é a vida de um portador da SA e como se pode superá-la.




1- Cassio, faça uma pequena introdução sobre sua vida.
Meu nome é Cássio, tenho 33 anos, sou solteiro, filho-único, moro sozinho, trabalho como analista de sistemas e futuramente pretendo fazer uma pós-graduação na área de informática. Sou portador de TOC e Síndrome de Asperger. Atualmente estou com os sintomas do TOC controlados com a ajuda de remédios, porém ainda estou na luta contra o Asperger, sobre o qual ainda temos pouca informação e recursos.

2- Quando criança e adolescente, quais as maiores dificuldades que você apresentava em casa? E na Escola?
Sempre tive dificuldade de interpretar brincadeiras e de me interagir com outras pessoas.

3- Havia alguma coisa na sua infância que parecia mais fácil para você do que para as outras crianças?
Acredito que eram áreas exatas como Matemática, Física e Química. Sempre tive mais facilidade de trabalhar com números do que com leitura, na qual eu tinha problemas de assimilação devido ao TOC e ao Asperger, pois muitas vezes não me despertava interesse ao tema da leitura, e como sempre me sentia pressionado a ler para me sair bem nas provas, repetia muito parágrafos, linhas, e até palavras, o que atrapalhava a minha concentração, quando eu achava que ajudaria.

4- Com relação aos amigos de sua infância, havia alguém com quem você se identificasse ou costumava ficar isolado?
Geralmente sempre fiquei isolado, até para tentar evitar brincadeiras vindas de colegas. Eu também aprontava muito nos recreios, mas custava a me desvencilhar de mágoas vindas de broncas e castigos. Até que conheci um colega de infância, que era extremamente quieto e ganhava muita atenção e elogio dos professores. Eu me inspirei nesse colega, ficando até sempre junto dele, mudei de comportamento, ficando mais quieto e mais calado, a fim de evitar ao máximo levar bronca de professores. Cheguei até a ganhar uma imagem de aluno exemplar, mas também de "bode expiatório" de muitos colegas.

5- Quais as disciplinas que você mais gostou ou gosta de estudar? Por quê?
Áreas exatas como Matemática, Física e Química. Porque para mim sempre foi mais produtivo estudar ciências exatas do que ciências humanas, que demandavam mais leitura e interpretação, que eram meu ponto fraco devido ao Asperger e ao TOC, como já havia dito.

6- Como vc suspeitou ou ficou sabendo sobre Síndrome de Asperger? Como foi diagnosticado?
Foram anos de muita terapia. Aos 12 anos, notei dificuldades na leitura e interpretação nos livros de História, o que chamava a atenção dos professores. Mas foi a partir dos 19 anos que resolvi fazer terapia, até por sugestão de um colega meu de faculdade, que talvez tenha notado algo estranho em mim e não tive coragem de perguntar. Três anos depois, fui diagnosticado com TOC por terapeutas e, sete anos depois, fui diagnosticado com Síndrome de Asperger, que acarretou o TOC, através de sintomas como dificuldade de interação com pessoas, interpretação de expressões de maneira literal e interesse específico por animais, novelas, e coisas relacionadas à nostalgia da infância, como desenhos animados, seriados, brinquedos e kits de material escolar (lápis, caneta, régua, caderno, transferidor, etc.).

7- Você acha que saber que tem síndrome de Asperger o ajudou de alguma forma?
Saber disso ajudou e muito! Me tirou um "peso nas costas", compreendendo o porquê de certos atos meus, como não sair de casa sozinho para não ver pessoas acompanhadas, o que me causava certa tristeza; e a dificuldade de interpretar brincadeiras, piadas e expressões. Foi a mesma sensação que tive quando fui constatado com TOC, de que não era o único, pois havia outras pessoas com esses problemas.

8- Como foi se organizar para ter mais conforto emocional, você usou algum método em específico?Foi fácil? As pessoas ao seu redor compreendem bem a sua rotina?
Com relação ao TOC, me sinto bem mais confortável graças à informação que chegou a mídias e programas como Globo Reporter, criação de grupos de apoio onde posso trocar experiências com outros portadores, e aos remédios que tomo. Eu me sentiria melhor se a Síndrome de Asperger fosse já tão popular quanto o TOC. Me sentiria mais aceito e compreendido. Até hoje tenho dificuldade de interpretar expressões e brincadeiras, o que já até chamou a atenção de colegas de trabalho. Não foi e ainda não está sendo fácil. Não consigo iniciar e manter assuntos mais de acordo com o cotidiano, como futebol, barzinho, cerveja, política e economia, o que me dificulta em fazer amizades e satisfazer meu lado afetivo. Atualmente eu faço terapia cognitivo-comportamental só tratando do Asperger, mas muitas vezes tenho a sensação de que há ainda poucos recursos para muito chão.

9- Quais os conselhos que você daria para pais, professores e amigos de pessoas com Asperger?
O que posso dizer é que se informem bastante sobre tal coisa, e ajudem essas pessoas sempre na medida do possível.










4 comentários:

  1. Puxa Camille, muito bacana!!!!
    Adorei a entrevista, parabéns!
    Só fiquei curiosa em saber de onde é o Cássio. Ele é de nossa cidade?
    Se vc permitir, vou fazer uma chamada no blog da APADEM para que as pessoas acessem seu blog e leiam a entrevista. O que acha?
    Bjs
    da amiga
    Claudia

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  2. Por dentro da mente de um asperger.
    Menino de 16 anos fala como é viver como asperger e sua forma peculiar de pensar.
    http://www.mundoasperger.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=27&Itemid=30

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  3. Oi Camille, meu nome é Tássio eu sou de Nova Iguaçu e acredito ter asperger. Na pergunta oito desta entrevista o Cássio cita grupos de apoio; gostaria de saber aonde ficam ou se conhece algum aqui na minha cidade ou no Rio de Janeiro. também tenho um filho que talvez tenha asperger, ele tem cinco anos e o nome dele é Otto, qualquer informação que tiver vai ser de grande ajuda. desde já agradeço e parabéns pelo blog.

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